sábado, 23 de abril de 2011

DIMENSÕES DA EDUCAÇÃO: UMA ABORDAGEM DA TECNOLOGIA PARA ALÉM DO ENFOQUE INSTRUMENTAL

Universidade Federal da Bahia

Curso de Especialização Tecnologia e Novas Educações

Atividade do Módulo I Ciclo V - A dimensão Estruturante da Tecnologia
Professora: Adriane Halmann
Orientadora de Aprendizagem: Lívia Coelho



Pensar nas dimensões da educação numa abordagem das Novas Tecnologias da Informação e Comunicação (NTIC) perpassa pela análise de elementos conjunturais e estruturais a partir da inserção dessas tecnologias na contemporaneidade de modo que, possamos reconhecer a complexidade e a amplitude dos fatos e fenômenos que dinamicamente formam a rede contextual que nos cerca e dão sentido as nossas vidas.

Historicamente, a educação tem refletido as características do seu tempo e da sociedade na qual as instituições educacionais estão inseridas. Vivemos em uma sociedade cada vez mais informatizada, que vem sofrendo transformações profundas, em especial nas formas de comunicação e de acesso a informação e ao conhecimento. Essas tendências prevêem a incorporação de novas formas de ensino e aprendizagem que por sua vez não são simplesmente nem facilmente assimiladas. Muitos professores ainda não reconhecem as possibilidades trazidas pelas NTIC e outros tantos ainda não sabem como utilizá-la efetivamente.

Nesse sentido, gostaria de tecer alguns comentários sobre dois aspectos estruturantes no modo de produção de conhecimento com o uso das NTIC aplicadas no contexto educacional: A Tecnologia como ferramenta e a tecnologia como linguagem, cujo entendimento é importante e elucidativo para que a escola provoque mudanças efetivas no que se refere a construção de conhecimentos centrada numa práxis pedagógica entrecruzada com o uso das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação – TDIC –, de maneira “que contemple a pluralidade, a complexidade, as diferenças e ambigüidades, a multiplicidade das visões de mundo, enfim, uma maior interatividade que se caracteriza pela dimensão comunitária, pela reciprocidade, criação e interferência por parte dos indivíduos” (ALVES, 1998)[1].

A utilização das TIC como ferramenta é uma abordagem que tem como característica a ênfase no “como fazer”, ou seja, no domínio técnico da máquina e dos aplicativos. Inaugurada com a entrada dos computadores nas escolas, as TIC tem sua utilização reduzida a atividades realizadas em laboratórios com softwares que reproduzem técnicas de ensino mecanicistas, reproduzindo métodos tradicionais de instrução utilizando o computador. Esse tipo de abordagem é chamado de modelo instrucionista desenvolvido por Skinner. De acordo com Alves :
As concepções de educação e aprendizagem implícitas nestes softwares seguem uma perspectiva tradicional, em que a aprendizagem é vista como mudança de comportamento frente ao bombardeio de informações, que não possibilitam a construção de conceitos por parte dos alunos. Ainda trabalham, portanto, com a concepção de aprendizagem behaviorista. (Alves, Lynn Rosalina Gama, 1998)[2]

Percebe-se, portanto que embora o conhecimento tecnológico tenha passado por profundas modificações a partir de meados do século XX, a pedagogia continuou centrada no ensinamento das técnicas e no manuseio das tecnologias ligadas à lógica utilitarista-instrumental.
Analisando as relações que historicamente estabelecemos com a máquina podemos antever elementos que ao mesmo tempo nos ajudam a identificar os fatores que justificam a abordagem mecânica das TIC, bem como nos dá subsídios para compreendermos as novas tecnologias numa dimensão que ultrapasse uma concepção das TIC para além de uma abordagem mecanicista.

Nesse sentido PRETTO[3] caracteriza a relação homem-máquina em três grandes etapas:
Num primeiro momento a técnica associada ao ato do fazer aliada a capacidade do homem e dependente de suas habilidades.
No segundo momento com desenvolvimento da Ciência Moderna a técnica associada ao logos: a tecnologia é vista como uma extensão dos sentidos do homem.
Por fim o momento atual onde vivemos o fazer da razão – as máquinas surgem a partir do mesmo processo social que constituiu o humano sem a separação técnica, cultura e sociedade.
Nesse contexto, pensar nas dimensões da educação numa abordagem pedagógica das NTIC perpassa pela superação de uma pedagogia tradicional assimilacionista, centrada no ensinamento das técnicas e no manuseio para uso das tecnologias, para uma concepção de educação que trabalhe sob o ponto de vista do conhecimento com outra perspectiva associada ao surgimento de uma nova linguagem a partir das TIC, que privilegie as inter-relações em rede, o pensamento associativo, hipermediativo e hiperlinkado através dos novos conhecimentos disponibilizados pelos suportes digitais.


[1]ALVES, Lynn Rosalina. Novas Tecnologias: instrumento, ferramenta ou elementos estruturantes de um novo pensar?. Revista da FAEEBA, Salvador, p.141-152, 1998. Disponível em
[2]Ibidem
[3]PRETTO, Nelson. Linguagens e Tecnologias na Educação. In: CANDAU, Vera (org). Cultura, linguagem e subjetividade no ensinar e aprender. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. p. 161-182. Disponível em

domingo, 22 de agosto de 2010








Universidade Federal da Bahia

Curso de Especialização Tecnologia e Novas Educações

Atividade módulo 3 - O sujeito na contemporaneidade - o homem-máquina

Professor: Edvaldo Couto

Orientadores de Aprendizagem: Américo Menezes e Irenildes Teixeira

Texto 2


Corpo Cyborg e o Dispositivo das Novas Tecnologias

(Homero Luís Alves de Lima)

A partir desse texto procurei focalizar ainda que superficialmente, a relevância da construção do mito como resultado da percepção cognitiva humana que tenta plasmar no entendimento uma distinção insuperável, sua origem e "gestão" na realidade, tal como percebida.

Ao longo de sua história o homem construiu mitos como uma maneira de encontrar o seu lugar na natureza, a sua origem na realidade. Aparentemente ingênuo ou destituído de reflexão e criticidade de originar algumas verdades, os mitos se prestam para explicar, tanto os fenômenos naturais quanto uma estrutura cultural modelando a ação humana resultado de uma manifestação volitiva antecessora.

Atualmente estamos diante de fronteiras, ou (seguindo a linha de pensamento do autor), da falta delas, que nos coloca diante de uma realidade propícia a criação de novos mitos, a mesma percepção de uma diferença insuperável, a mesma busca por uma resposta que estabeleça uma relação de ordem ante a uma realidade caótica vivenciada desde os povos primitivos, no nosso caso: a aceleração tecnológica, impulsionada pelo desenvolvimento científico-tecnólogico emergentes das novas tecnologias da informação, tem oferecido cenários nunca dantes pensados no que diz respeito às possibilidades de transformação tecnológica do corpo, desestabilizando o equilíbrio do nosso desejo de consolidar um paradigma que nos afaste do medo e da insegurança que o desconhecido nos impõe.

Como os primitivos, ante as “vontades da natureza”, incompreensíveis e assustadoras, atualmente as coisas adquirem nova conotação, e, assim como nossos antecestrais, ‘emprestamos’ ao mito, qualidades boas ou más, desse modo “Um vírus informático [que], por exemplo, faz copias de seu próprio programa, cresce, desenvolve-se, evolui nas redes e memórias eletrônicas. (...) tem vida própria no silício dos microprocessadores e nas redes de comunicação” (Lima, 2009)[1] se constitui um fenômeno que gera incertezas de nosso devir com a convivência da máquina, incertezas que a cognição humana ainda não compreende.

A perda de referências, as novas e múltiplas metamorfoses nos levam a construção de mitos, cujas diferenças se expressam em dualismos: homem/máquina, agência/instrumento, natural/artificial, orgânico/inorgânico, vivo/não-vivo.

Surgindo no limiar da “revolução digital”, o ciborgue rompe as fronteiras entre o humano e o animal, derrubando as últimas fortalezas do privilégio da singularidade humana – a linguagem, o uso de instrumentos, o comportamento social, os eventos mentais; nada disso estabelece de forma convincente, a separação entre o humano e o animal. Torna completamente ambígua a diferença entre o natural e artificial, entre a mente e o corpo, entre aquilo que é capaz de produzir a si mesmo e aquilo que é produzido por outrem, estendendo essa imprecisão a outras divisões que se costumava aplicar aos organismos e máquinas.

Se hoje não está claro onde termina o humano e onde começa a máquina e a imagem do ciborgue nos sugere uma resposta aos dualismos fixados pelo humanismo que até então demarcavam o natural e artificial, ainda assim o ciborgue não se constitui uma saída que permita escapar dos dualismos, uma vez que a sua imagem como ‘organismo cibernético” permanece prisioneira da lógica do “hibridismo”, da junção do organismo e do maquínico, da união das partes que se encontram desde o princípio separadas.

Em meio as incerteza que a modernidade tem nos apresentado, parece que a capacidade humana de criar os mitos, ainda seja o que nos distingue substancialmente dos seres híbridos.


[1] LIMA, Homero Luis Alves. Corpo Cyborg e o dispositivo das novas tecnologias. In: COUTO, Edvaldo & GOELLNER, Silvana Vilodre. (orgs). Corpos Mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais – 2. ed. – Porto Alegre: Editora da UFGRS, 2009.

domingo, 15 de agosto de 2010

MINHAS ESTAÇÕES

VERÃO

MINHAS ESTAÇÕES

PRIMAVERA

Universidade Federal da Bahia

Curso de Especialização Tecnologia e Novas Educações

Atividade módulo 3 - O sujeito na contemporaneidade - o homem-máquina

Professor: Edvaldo Couto

Orientadores de Aprendizagem: Américo Menezes e Irenildes Teixeira


Texto 1

Corpo, Fragmentos e Ligações: a micro-história de alguns órgãos e de certas promessas. (Ieda Tucherman)

Tendo como referência a construção cultural do corpo, Tucherman analisa a passagem entre o projeto modernidade e nossa a atualidade. Um corpo historicamente situado, que acompanha as mudanças de seu tempo, caracterizado pelo binômio homem-máquina.

Faz-se necessário a título de situar o atual estágio vivido pela humanidade, analisar mesmo que superficialmente, os conceitos de modernidade e atualidade.

A modernidade historicamente se apresenta para nos como um momento de ruptura do antigo regime[1] pela decadência do feudalismo e desenvolvimento do capitalismo, cuja estrutura apresenta um conjunto de aspectos interligados que atuam no sentido de superar o sistema feudal: em linhas gerais economicamente o sistema econômico que tinha por base a agricultura é gradativamente substituído inicialmente pelas atividades comerciais com o intercambio de mercadorias e dinheiro posteriormente evoluindo para a industrialização.

Socialmente a classe mais ligada ao comércio, a burguesia, torna-se cada vez mais rica e poderosa é a promotora do processo econômico capitalista, defendendo uma concepção de mundo laica e racionalista.

Do ponto de vista ideológico-cultural o iluminismo cria os referenciais teórico-filosóficos que darão sustentabilidade – a laicização, responsável pela emancipação da mentalidade dominada pela visão de mundo religiosa da época, ligando o homem à historia e à direção do seu processo (a liberdade e o progresso) – e a racionalização – que elege a razão como o instrumento de reflexão capaz de melhorar e empreender instituições mais justas e funcionais, produzindo uma transformação profunda nos saberes que se legitimam e se organizam através do uso livre da razão, a qual segue seus vínculos internos lógicos com base na ciência, opondo-se a todas as formas de conceitos pré-concebidos.

Nesse sentido, duas noções fundamentais estão associadas ao termo moderno: Progresso (o novo é sempre melhor ou mais avançado do que o antigo) e a individualidade (valorização do individuo ou da subjetividade como lugar da certeza e da verdade e origem dos valores em oposição à tradição).

A atualidade seria o cenário em que a natureza, sociedade e tecnologia se misturam, esta emerge como uma proliferação intensa de híbridos, conforme sinaliza Tucherman[2] “... hoje vivemos o momento da euforia dos hibridismos, das apostas na artificialização da vida, das sintetizações entre o mecânico e o biológico, quando se apresentam promessas de decifrar a linguagem da vida e interditar, pelo menos imaginariamente, a morte.”

Em seu artigo Corpo, Fragmentos e Ligações:a micro-história de alguns órgãos e de certas promessas, Tucherman define o corpo atual como lugar de construção para onde convergem duas tendências marcantes: às hard-sciences e suas tecnologias de ponta que se manifestam como implantes corporais circuitos, órgãos artificiais, drogas, cirurgias plásticas, modificações genéticas e interfaces cerebrais) e as descendentes da postura new-age (tatuagens, piercings, body-modification etc.).

Essas tendências provocam transformações que introduzem novas questões sobre a percepção de identidade que até então não vivenciávamos. Novos elementos se inserem nas formas de relação do moderno com a atualidade: o “Choque do novo” e do “bombardeio dos estímulos”, proporcionado, segundo Tucherman[3], pelo surgimento da fotografia que, “fixando a aparência do individuo supostamente único, (...) alterou as concepções tradicionais de identidade pessoal ao fazer do corpo “uma imagem transportável e totalmente adaptável aos sistemas de circulação e mobilidade que a modernidade exigia” (Gunning, 2001[4])” e com mais propriedade o cinema que tem um conjunto de atributos que o elegem como o lócus privilegiado de expressão da exacerbação dos efeitos da velocidade, simultaneidade, simulação e seus efeitos no campo social e existencial, simbólico e imaginário que caracterizam as formas de relação do moderno com o contemporâneo e seus jogos de continuidade e rupturas.

Percebemos assim, pela hipótese de Turcheman, que o cinema e a ficção-científica sinalizam, - quando aparecem imbricados temas como os das mutações e desconstruções dos corpos humanos e a relação vivo ou não-vivo -, a lógica de construção da identidade cultural do corpo em suas diversas relações, interações e mesclagens com as tecnologias contemporâneas.


[1] Expressão usada para designar o regime econômico/social/político/religioso/cultural que caracterizou os Estados europeus entre os séculos XV até os finais do século XVIII. (http://www.slideshare.net/isabel.pena/antigo-regime-conceitos-1287873, acesso em 15/08/2010 7:59 a.m

[2] TUCHERMAN, Ieda. Corpo, Fragmentos e Ligações:a micro-história de alguns órgãos e de certas promessas. In: COUTO, Edvaldo & GOELLNER, Silvana Vilodre. (orgs). Corpos Mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais – 2. ed. – Porto Alegre: Editora da UFGRS, 2009.

[3] ibdem

[4] GUNNING, Tom. O retrato do corpo humano: a fotografia, os detetives e os primórdios do cinema. In: TUCHERMAN, Ieda. Corpo, Fragmentos e Ligações:a micro-história de alguns órgãos e de certas promessas. In: COUTO, Edvaldo & GOELLNER, Silvana Vilodre. (orgs). Corpos Mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais – 2. ed. – Porto Alegre: Editora da UFGRS, 2009.

domingo, 8 de agosto de 2010