domingo, 22 de agosto de 2010








Universidade Federal da Bahia

Curso de Especialização Tecnologia e Novas Educações

Atividade módulo 3 - O sujeito na contemporaneidade - o homem-máquina

Professor: Edvaldo Couto

Orientadores de Aprendizagem: Américo Menezes e Irenildes Teixeira

Texto 2


Corpo Cyborg e o Dispositivo das Novas Tecnologias

(Homero Luís Alves de Lima)

A partir desse texto procurei focalizar ainda que superficialmente, a relevância da construção do mito como resultado da percepção cognitiva humana que tenta plasmar no entendimento uma distinção insuperável, sua origem e "gestão" na realidade, tal como percebida.

Ao longo de sua história o homem construiu mitos como uma maneira de encontrar o seu lugar na natureza, a sua origem na realidade. Aparentemente ingênuo ou destituído de reflexão e criticidade de originar algumas verdades, os mitos se prestam para explicar, tanto os fenômenos naturais quanto uma estrutura cultural modelando a ação humana resultado de uma manifestação volitiva antecessora.

Atualmente estamos diante de fronteiras, ou (seguindo a linha de pensamento do autor), da falta delas, que nos coloca diante de uma realidade propícia a criação de novos mitos, a mesma percepção de uma diferença insuperável, a mesma busca por uma resposta que estabeleça uma relação de ordem ante a uma realidade caótica vivenciada desde os povos primitivos, no nosso caso: a aceleração tecnológica, impulsionada pelo desenvolvimento científico-tecnólogico emergentes das novas tecnologias da informação, tem oferecido cenários nunca dantes pensados no que diz respeito às possibilidades de transformação tecnológica do corpo, desestabilizando o equilíbrio do nosso desejo de consolidar um paradigma que nos afaste do medo e da insegurança que o desconhecido nos impõe.

Como os primitivos, ante as “vontades da natureza”, incompreensíveis e assustadoras, atualmente as coisas adquirem nova conotação, e, assim como nossos antecestrais, ‘emprestamos’ ao mito, qualidades boas ou más, desse modo “Um vírus informático [que], por exemplo, faz copias de seu próprio programa, cresce, desenvolve-se, evolui nas redes e memórias eletrônicas. (...) tem vida própria no silício dos microprocessadores e nas redes de comunicação” (Lima, 2009)[1] se constitui um fenômeno que gera incertezas de nosso devir com a convivência da máquina, incertezas que a cognição humana ainda não compreende.

A perda de referências, as novas e múltiplas metamorfoses nos levam a construção de mitos, cujas diferenças se expressam em dualismos: homem/máquina, agência/instrumento, natural/artificial, orgânico/inorgânico, vivo/não-vivo.

Surgindo no limiar da “revolução digital”, o ciborgue rompe as fronteiras entre o humano e o animal, derrubando as últimas fortalezas do privilégio da singularidade humana – a linguagem, o uso de instrumentos, o comportamento social, os eventos mentais; nada disso estabelece de forma convincente, a separação entre o humano e o animal. Torna completamente ambígua a diferença entre o natural e artificial, entre a mente e o corpo, entre aquilo que é capaz de produzir a si mesmo e aquilo que é produzido por outrem, estendendo essa imprecisão a outras divisões que se costumava aplicar aos organismos e máquinas.

Se hoje não está claro onde termina o humano e onde começa a máquina e a imagem do ciborgue nos sugere uma resposta aos dualismos fixados pelo humanismo que até então demarcavam o natural e artificial, ainda assim o ciborgue não se constitui uma saída que permita escapar dos dualismos, uma vez que a sua imagem como ‘organismo cibernético” permanece prisioneira da lógica do “hibridismo”, da junção do organismo e do maquínico, da união das partes que se encontram desde o princípio separadas.

Em meio as incerteza que a modernidade tem nos apresentado, parece que a capacidade humana de criar os mitos, ainda seja o que nos distingue substancialmente dos seres híbridos.


[1] LIMA, Homero Luis Alves. Corpo Cyborg e o dispositivo das novas tecnologias. In: COUTO, Edvaldo & GOELLNER, Silvana Vilodre. (orgs). Corpos Mutantes: ensaios sobre novas (d)eficiências corporais – 2. ed. – Porto Alegre: Editora da UFGRS, 2009.

Um comentário:

  1. Adorei seu blog colega,
    Quando vc diz:
    "o ciborgue rompe as fronteiras entre o humano e o animal, derrubando as últimas fortalezas do privilégio da singularidade humana", forte afirmativa, a qual o ser humano deve refletir e ponderar em suas ações e suas pretensas evoluções das máquinas, para um dia não sermos substituídos pelos robôs (cyborgs), como no filme Inteligência Artificial, dirigido por Spillberg. Assustador!

    A única vantagem que vi no filme, é que nós mulheres podemos ter esperanças, na falta de homens, os substituímos por pelos artificiais, com a vantagem de escolher cor de cabelo, olhos e etc. kkkkkkkkk
    Bjs

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